Desde que cheguei às Terras Lusas, esse ditado me intriga. E já não bastavam as explicações populares. Queria saber o por que?! E, já com a curiosidade a arrebentar pelas costuras, fui a caça de respostas. Segundo texto encontrado no site Imigrantes, da autoria de Carlos Fontes, "a justificação destes ditado, encontramo-la na história das relações entre Portugal e a Espanha, marcada por seculares actos de pilhagem, traições, guerras e ameaças" e ainda do mesmo autor, " A tradição já não é o que foi, mas parece estar ainda bem viva se tivermos em conta alguns casos recentes. A questão é de natureza cultural, e portanto muito difícil de ser alterada".
O caso mais recente veio hoje noticiado na imprensa portuguesa: Quatro portugueses aliciados a trabalhar em Espanha sem condições.
Tenho que confessar que o que acabei por descobrir, deixou-me espantada. Nos tempos de colégio, havia estudado alguma coisa sobre as relações históricas entre Portugal e Espanha, mas nada que se aproximasse com o que fui lendo agora.
Para elucidar mais alguma coisa, vejam o que também foi publicado no site Imigrantes:
Irmãos, Explorados e Mal Amados
Na retórica política dos dois países Portugal e Espanha são dois países irmão, mas na verdade, os inquéritos à opinião publica espanhola mostram que estes consideram os portugueses pouco simpáticos, maus partidos para casarem os seus filhos, vizinhos desagradáveis nas habitações, maus colegas de trabalho, etc. Comparando o Inquérito à Opinião Pública Espanhola de 1996 e o de 2000, verifica-se que este sentimento de antipatia tem vindo a aumentar. A melhoria do bem estar dos portugueses tornou-se uma fonte de preocupação para os espanhóis. Uma infelicidade!
Inquérito de Fevereiro de 2000
Entre todos os Europeus, excluindo os oriundos dos países do leste, os portugueses são aqueles que menos lhes inspiram simpatia. Os que menos gostam em todo o mundo são os imigrantes do Norte de África (Marroquinos, etc).
Se um filho(a) casasse com um português ou portuguesa, cerca 10% dos país espanhóis ficavam muito ou bastante preocupados. Menor preocupação teriam se o noivo (a) fosse originário de qualquer outro país da União Europeia. O que os punha de cabelos em pé era todavia o noivo (a) fosse oriundo do Norte de África.
Cerca de 4% dos espanhóis ficam muito ou bastante preocupados se morarem no mesmo edifício onde vivem portugueses. Menor receio tem se os seus vizinhos forem de qualquer país da Europa, incluindo os do leste. Os que mais detestam são vizinhos do Norte de África, em especial de Marrocos.
Entre todos os europeus, aqueles menos com quem menos gostam de trabalhar são os portugueses. Causam-lhe tanto incómodo como os latinos americanos. Os companheiros de trabalho que mais os perturbam são os pobres dos marroquinos.
Quando um espanhol pensa de forma imediata num imigrante, a 4,2% vêem-lhes logo à cabeça um português, isto apesar da percentagem dos imigrantes portugueses em Espanha ser inferior a 1% . O seu padrão de Imigrante é todavia outro: 76,6% pensam logo em Norte Africanos; 27,9% africanos e 20,5% em latino americanos.
Inquérito de Junho de 1996
As regiões que menos simpatias nutrem pelos portugueses são por ordem decrescente as seguintes: Valência, Catalunha; Madrid e Andaluzia.
As simpatias dos espanhóis repartem-se em primeiro lugar por todos os povos europeus e latinos americanos, é só em depois lhes sobra alguma coisa para os portugueses e os filipinos. Os que menos simpatias lhes despertam, são como era de esperar, os norte africanos e em especial os marroquinos.
Segundo o Imigrantes, estes inquéritos à opinião pública foram realizado pelo Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS) do Ministério da Presidência do Governo Espanhol, e estariam publicados em sua página oficial.
Curiosamente, quando fui até lá, descobri que a pesquisa havia sido retirada sem justificações. Mas, a julgar pelo que está descrito acima, dá para imaginar porque.
Segundo Cunha Simões, em seu livro História de Portugal - de Afonso Henriques a Cavaco Silva, a situação é muito antiga: "Os espanhóis deixaram Portugal na miséria. Limparam os cofres públicos; arrecadaram para eles milhões e milhões de cruzados. Não tínhamos dinheiro, nem soldados, nem armas, nem navios. Roubaram tudo. Sabendo o estado em que nos encontrávamos, não se incomodaram em reprimir imediatamente a revolução. D. João IV aproveitou esta auto confiança, reuniu Cortes e determinou que fossem disponibilizados dois milhões de cruzados para fazer face às primeiras despesas. Ao mesmo tempo são mobilizados todos os homens válidos para enfrentar os espanhóis que, mais tarde ou mais cedo, haviam de querer ocupar, de novo, Portugal.
Nas Cortes ficou ainda decidido que a partir dessa data (28 de Janeiro de 1641) para o futuro, o Rei de Portugal devia ser sempre português e obrigado a viver em Portugal para evitar que, através de casamentos, entre famílias reinantes, situações destas voltassem a acontecer.
Mas entre os portugueses há sempre alguns que preferem a canga à liberdade e alguns destes prepararam-se para matar D. João IV e entregar, de novo, o Governo aos Filipes. O conde de Armamar, o marquês de Vila-Real e o Duque de Caminha foram degolados, outros morreram na prisão".
Finalmente descobri a tão expectante origem do antigo, e curioso, ditado cá das terras de Portugal.
Nina Machado